A certeza de Cristo em uma era de incerteza

E screvo este editorial do Reino Unido, apenas uma semana depois da morte de Sua Majestade, a Rainha Elizabeth, no dia 8  de setembro. Em todo este país e no mundo, muita pesar está sendo expressado. Esta efusão de tristeza é natural para uma rainha muito amada que permaneceu no trono durante 70 anos. A maioria dos cidadãos do Reino Unido não consegue se lembrar de nenhum outro monarca e muitos têm lembranças preciosas dela. Eu mesmo tive o imenso privilégio de almoçar com Sua Majestade e o Duque de Edimburgo no Palácio de Buckingham junto com um pequeno grupo de outros convidados. 

Nós, no Reino Unido, estamos agora entrando em uma nova era com um novo rei, e alguns estão se perguntando o que está por vir. Enquanto isso, toda a comunidade global enfrenta questões que afetam os próprios fundamentos de nossa existência em um mundo cheio de sofrimento. 

No mesmo dia da morte da Rainha, 8 de setembro de 2022, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) emitiu seu relatório anual de desenvolvimento humano; ele foi intitulado Tempos Incentos, Vidas Instáveis. “Vivemos em um mundo de preocupações,” escreveu Pedro Conceição, Diretor do Escritório do Relatório de Desenvolvimento Humano  no seu prefácio ao documento.

Não há dúvida de que vivemos em um mundo ferido, perturbado por muitos fatores. Há conflitos entre facções humanas e nações, extremos climáticos alarmantemente destrutivos, uma pandemia que não vai embora, e um número sem precedentes de refugiados e pessoas deslocadas, com todos esses fatores afetando a saúde mental de muitos. 

A incerteza em si não é nova, mas, diz o relatório do PNUD, “suas dimensões estão tomando novas formas sinistras hoje. Um novo ‘complexo de incerteza’ está surgindo, nunca antes visto na história da humanidade.”2 O relatório identifica “três vertentes instáveis e interativas” que compõem o complexo de incerteza: 

1. Pressões e desigualdades planetárias 
2. A busca de transformações societárias abrangentes para aliviar essas pressões
3. Polarização generalizada entre países e dentro deles 
 

Diferentes culturas respondem ao sofrimento e ao luto de diferentes maneiras, mas expressar nossos sentimentos de forma audível é muitas vezes útil, seja em palavras ou em suspiros, gemidos e lágrimas.3 No Macbeth de Shakespeare, isto é colocado em palavras quando Malcolm fala com Macduff, que acaba de ser informado de que sua esposa e todos os seus filhos foram massacrados e, evidentemente, fica sem palavras, tentando assimilar a situação: 

Dai palavras à dor. Quando a tristeza perde a fala, sibila ao coração, provocando de pronto uma explosão.4

A Bíblia dá muitos exemplos de luto verbal e físico, incluindo o próprio Jesus que ficou tão emocionado com o grupo que lamentava no túmulo de Lázaro que Ele se agitou de emoção (João 11.33, o significado literal da última parte deste versículo que é traduzido como “perturbado” em muitas versões em Português). Ele também chorou (v.35). Seu próprio espírito estava perturbado (v.33). Ele não ficou indiferente como os Estoicos, não afetado pela situação. Na verdade, ocorreu exatamente o contrário. Ele sentiu a emoção profundamente. Um luto profundo e avassalador se expressou fisicamente.

Ao nos aproximarmos de um novo ano, confrontados com questões aparentemente insolúveis que impactam todos nós, não podemos ficar indiferentes ao sofrimento dos outros. Assim como muitos compartilharam corporalmente o luto por nossa amada Rainha Elizabeth, também agora, como Cristãos em um mundo escuro e despedaçado, devemos compartilhar a dor que os outros experimentam - a dor do mundo em geral, mas especialmente a de nossos irmãos e irmãs Cristãos. 

A época do Natal começa logo, quando celebramos a Encarnação de Jesus, a Luz do mundo. Alegremo-nos de que “A luz brilha nas trevas, e as trevas não a derrotaram” (João 1.5). Ele é Cristo Jesus nossa esperança (1 Timóteo 1.1). Ele é o Príncipe da Paz (Isaías 9.6) que, em nosso mundo de preocupações, nos diz: “Não se perturbe os corações de vocês” (João 14.1). 

Patrick Sookhdeo
Diretor Internacional
1 Tempos Incertos, Vidas Instáveis: Construir o Futuro num Mundo em Transformação, PNUD Relatório de Desenvolvimento Humano 2021/22, New York, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 2022, p.iv. 
2 Tempos Incertos, Vidas Instáveis, p.25 .
3 Escrevi mais sobre lamentação sem palavras no capítulo 6 de O Mistério do Sofrimento (The Mystery of Suffering)
4 Ato IV, cena 3, linha 208. O significado aproximado em Português moderno é: “Coloque sua tristeza em palavras. A tristeza que você guarda dentro de si sussurra ao seu coração sobrecarregado e diz a ele para quebrar.”

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